domingo, 2 de janeiro de 2011

Primeiro Capítulo

A História da Família Lopes é tão grande, mas tão grande, e tão naturalmente bela, singular, que eu não preciso ter nenhum compromisso quanto à forma como vou contá-la. De certa modo, isso alivia um pouco a minha tarefa, uma vez que minha participação, enquanto testemunha ou personagem, ou personagem-testemunha, tem apenas 23 anos, e, sabemos todos, que a História já tem, no mínimo, quase 90 anos de duração.

Poderia começá-la, por exemplo, no casamento dos meus pais, ou na vinda da família de Registro para o ABC, ou ainda nas dezenas de nascimentos triunfais de netos, bisnetos ou tataranetos da nossa senhorinha Perpétua Lopes.

Prefiro, contudo, inciar os trabalhos destes relatos em uma das muitas festas que vivemos no sobrado da Tia Meire e do Tio Mario. Acho que nunca em nenhum lugar eu brinquei tanto na rua como lá, com tantos dos meus primos e primas. Não lembro exatamente a ocasião, se natal, ou ano novo, ou aniversário... Lembro-me apenas de que estávamos muitos lá, dos Lopes, dos agregados.


Já era noite. Os adultos divertiam-se dentro da casa, na garagem. As crianças, brincavam na rua em muitos grupinhos. Por algum motivo, raro, eu não estava jogando bola com Rafael, João Paulo, Brun"inho". Eu estava subindo e descendo a rua, empurrando o triciclo - acho que da Dê -, o qual levava um dos muitos filhos dos meus tios, tias. Acho que a minha proximidade com as crianças desde sempre explicará eternamente aquilo que sou, ou aquilo que sempre quis ser.

Eu tinha bem poucos anos, uns 10 talvez. O primo, com o qual eu brincava, muito menos. Desci e subi a rua muitas vezes. Até que, por algum motivo, cujo sentido pertence apenas ao universo das crianças, meu primo, Igor, decidiu que não queria mais andar no triciclo. Fiquei alguns segundos parado, de pé, olhando o Igor entrar na casa da Tia Meire, talvez à procura do Tio Ico, seu pai, ou da Tia Raquel, sua mãe.

Nem um minuto havia passado quando outro de meus primos, sentou-se na bicicletinha.

"Vamu embora, LÊ! Vai bem rápido..."

Obedeci. Não tinha planos de parar de brincar pelas próximas três, quatro horas. Ao final da primeira volta, contudo, paramos. Conversamos alguma conversa de criança - sabemos também que são naturalmente as conversas mas honestas -, desconversamos e nos preparamos para a segunda volta. Seria, sem sombra de dúvida, a mais rápida, a mais perigosa, a mais divertida. Antes porém, sem qualquer motivo aparente, o Bam-Bam me chamou:

"Lê, você é meu amigo?"

...

Com meus prováveis 10 anos, respondi que sim, menos por pensar e mais por instintivamente me sentir amigo dele, e de todos os meus primos, primas, tios, tias, do meu irmão, da minha mãe, do meu pai, da minha vó...

Hoje, contudo, conscientemente tenho a responsabilidade de dar uma resposta melhor. E acho que a resposta seguinte é a minha definitiva. Será a mesma daqui a 20, 30 ou 70 anos...

"Bam, sou seu amigo. Somos todos amigos uns dos outros. Temos sido amigos por décadas seguidas. Seremos hoje, e ontem, e amanhã, e todo dia, e agora e sempre e pra sempre; porque não importa o que aconteça, podemos olhar pra qualquer um da nossa família - qualquer um mesmo - e saber que ali tem alguém que nos ama incondicionalmente...".